Couric, criticada por alguns por misturar jornalismo e entretenimento. (Foto: Michael Ramirez/Divulgação/IBD)
Cartum ironiza declaração de George W. Bush sobre o presidente russo Vladmir Putin: 'Eu olhei o homem nos olhos. Pude sentir a sua alma' (Foto: Michael Ramirez/Divulgação/IBD)
Cartum discute os supostos efeitos colaterais da produção de biocombustíveis. Na legenda: 'Desculpe-me, preciso disto para usar no meu carro'. (Foto: Michael Ramirez/Divulgação/IBD)
Cartum sobre Barack Obama publicado no início da corrida presidencial: 'Não sei bem o que é, mas me sinto
estranhamente atraída a ele', diz personagem. (Foto: Michael Ramirez/Divulgação/IBD)
'Os políticos ajudam o meu trabalho', diz chargista vencedor do Pulitzer
Diego Assis do G1 entrevista Michael Ramirez, que assina as charges do 'Investor's Business Daily'.Desenhista não sentirá falta de Bush graças às 'trapalhadas' de Hillary, Obama e cia.
George W. Bush, Barack Obama, Hillary Clinton, Hugo Chávez, Guerra no Iraque, fome na África, biocombustíveis, eleições na Rússia, CNN, CBS... Não houve tema no cenário político e econômico em 2007 que tenha passado incólume à pena do chargista Michael Ramirez. E foi por esse conjunto de "charges provocativas que se baseiam na originalidade, no humor e na qualidade artística detalhada" que este desenhista norte-americano, filho de mãe japonesa e pai mexicano, levou pela segunda vez, neste ano, o Prêmio Pulitzer, o mais prestigiado do jornalismo nos Estados Unidos.
Aos 46 anos, Ramirez já publicou seus trabalhos em alguns dos jornais mais importantes dos Estados Unidos, incluindo os diários "USA Today" e "Los Angeles Times". Atual editor-sênior e responsável pela parte de humor gráfico do periódico "Investor's Business Daily", ele publica suas charges "pelo menos" quatro vezes por semana. "Às vezes cinco ou seis ou sete... É a nossa linha editorial aqui: todo mundo tem o direito de ter uma opinião", justificou o cartunista político, em entrevista concedida por telefone ao G1.
Diego Assis do G1 entrevista Michael Ramirez, que assina as charges do 'Investor's Business Daily'.Desenhista não sentirá falta de Bush graças às 'trapalhadas' de Hillary, Obama e cia.
George W. Bush, Barack Obama, Hillary Clinton, Hugo Chávez, Guerra no Iraque, fome na África, biocombustíveis, eleições na Rússia, CNN, CBS... Não houve tema no cenário político e econômico em 2007 que tenha passado incólume à pena do chargista Michael Ramirez. E foi por esse conjunto de "charges provocativas que se baseiam na originalidade, no humor e na qualidade artística detalhada" que este desenhista norte-americano, filho de mãe japonesa e pai mexicano, levou pela segunda vez, neste ano, o Prêmio Pulitzer, o mais prestigiado do jornalismo nos Estados Unidos.
Aos 46 anos, Ramirez já publicou seus trabalhos em alguns dos jornais mais importantes dos Estados Unidos, incluindo os diários "USA Today" e "Los Angeles Times". Atual editor-sênior e responsável pela parte de humor gráfico do periódico "Investor's Business Daily", ele publica suas charges "pelo menos" quatro vezes por semana. "Às vezes cinco ou seis ou sete... É a nossa linha editorial aqui: todo mundo tem o direito de ter uma opinião", justificou o cartunista político, em entrevista concedida por telefone ao G1.
Leia a seguir trechos da conversa.
G1 - Quando você começou a trabalhar com cartunismo político?
Michael Ramirez - Comecei a fazer cartuns editoriais em 1980, na faculdade. Nunca pensei que seria cartunista. Até então achava que me tornaria um médico, como meus irmãos. Mas na faculdade comecei a me interessar por jornalismo, e colaborava com o jornal da universidade. Um dia meu editor descobriu que eu podia desenhar e me pediu uma charge. Fiz e recebemos toneladas de protestos. De repente, percebi que com uma imagem consegui uma atenção que jamais havia tido durante todo o tempo em que estava tentando escrever.
G1 - Quando você começou a trabalhar com cartunismo político?
Michael Ramirez - Comecei a fazer cartuns editoriais em 1980, na faculdade. Nunca pensei que seria cartunista. Até então achava que me tornaria um médico, como meus irmãos. Mas na faculdade comecei a me interessar por jornalismo, e colaborava com o jornal da universidade. Um dia meu editor descobriu que eu podia desenhar e me pediu uma charge. Fiz e recebemos toneladas de protestos. De repente, percebi que com uma imagem consegui uma atenção que jamais havia tido durante todo o tempo em que estava tentando escrever.
G1 - Sobre o que era esse charge?
Ramirez - Era sobre as eleições na escola e o curioso era que os candidatos não estavam disputando por suas idéias, era uma embate de personalidades.
G1 - Onde você publicou a sua primeira charge profissional?
Ramirez - Meu primeiro trabalho profissional foi em um pequeno jornal de Newport Beach, Califórnia. Na verdade, foi lá que me entreguei de vez ao cartunismo político. Lembro-me de um incidente em que um homem foi preso pela polícia de Newport Beach. Eles o algemaram, não o deixaram fazer nenhuma ligação, o colocaram no carro de polícia e o acusaram de estar dirigindo sob efeito de drogas. Mas depois se descobriu que ele não tinha bebido nada. Pior, ele era vereador da cidade! Então fiz uma charge que mostrava ele todo amarrado, com o sapato enfiado na boca e o policial dizendo ao sargento: "eu estava apenas reforçando o seu direito constitucional de permanecer em silêncio". E o policial de Newport ficou tão bravo que foi ao editor tentar descobrir onde eu estava. E então percebi o impacto profundo que esses desenhos podem ter. E acho que é por isso que acabei indo fazer cartuns políticos.
G1 - Se tivesse de escolher um motivo, por que acha que venceu o Pulitzer neste ano? Houve algo de especial em 2007 que rendeu boas piadas visuais e charges?
Ramirez - Basicamente, é porque sou o melhor cartunista editorial que já existiu (risos). Não, estou brincando. Todo ano é um grande ano para o cartunismo. O comportamento dos políticos ajuda a fazer o trabalho para você. Mas acho que, de certo modo, as charges que fiz no ano passado anteciparam alguns assuntos que só agora estão chegando à superfície. Teve uma que fiz do [pré-candidato à presidência dos EUA Barack] Obama em janeiro do ano passado inspirada naquelas estátuas da Ilha de Páscoa. É engraçado porque ele, de certa forma, parece aquelas pedras (risos). Mas, para mim, essa charge define a mística da campanha que está acontecendo exatamente agora. E foi publicada em janeiro.
Outro foi um cartum com um sujeito de terno Armani disputando uma espiga de milho com um menino na África e dizendo: "me desculpe, preciso dele para o meu carro". E agora o etanol está competindo como alternativa ao combustível de petróleo e se tornando um grande tema. Acho também que o motivo de minhas charges terem sido escolhidas é que elas não o fazem rir, não o fazem chorar, mas sempre o fazem pensar. Acredito que, hoje, infelizmente, os cartuns políticos estão seguindo uma tendência de migrar para o campo do entretenimento.
G1 - Percebe-se, por outro lado, que você tem um cuidado muito grande com as ilustrações das charges, sempre cheias de detalhes...
Ramirez - Ironicamente, não acho o meu desenho tão bom. Mas acredito muito no fato de que as pessoas são atraídas pelo visual, elas gostam de olhar as coisas, especialmente se elas são interessantes. Vejo os desenhos como uma armadilha para a qual as pessoas olham e tiram um outro significado. O ponto é que, se você quer produzir um impacto profundo no debate político em seu país, você precisa estimular as pessoas a olhar e a pensar.
G1 - Nos últimos meses, muito tem se falado sobre as polêmicas charges do profeta Maomé publicadas por um jornal dinamarquês. Qual é a sua opinião sobre isso? Acredita que existam limites para a liberdade de imprensa e o respeito religioso?
Ramirez - Eu acho que há limites de bom gosto. Você não quer ofender as pessoas à toa. Eu não faço cartuns controversos só pela controvérsia. Como não faço cartuns de humor pelo humor. Você tem de ter um motivo. Acho que a reação dos muçulmanos é errada ao tentar limitar o discurso das pessoas, que deveriam ter o direito de poder tirar suas próprias conclusões. Penso que, se alguém desenha algo ofensivo, isso terá um mau reflexo no seu trabalho. Quando faço cartum político, sou muito consciente das sensibilidades em jogo e tento evitar que um elemento daquele cartum seja puramente ofensivo. Se você faz isso, eles vão focar apenas naquele elemento em vez da charge como um todo.
Ramirez - Ironicamente, não acho o meu desenho tão bom. Mas acredito muito no fato de que as pessoas são atraídas pelo visual, elas gostam de olhar as coisas, especialmente se elas são interessantes. Vejo os desenhos como uma armadilha para a qual as pessoas olham e tiram um outro significado. O ponto é que, se você quer produzir um impacto profundo no debate político em seu país, você precisa estimular as pessoas a olhar e a pensar.
G1 - Nos últimos meses, muito tem se falado sobre as polêmicas charges do profeta Maomé publicadas por um jornal dinamarquês. Qual é a sua opinião sobre isso? Acredita que existam limites para a liberdade de imprensa e o respeito religioso?
Ramirez - Eu acho que há limites de bom gosto. Você não quer ofender as pessoas à toa. Eu não faço cartuns controversos só pela controvérsia. Como não faço cartuns de humor pelo humor. Você tem de ter um motivo. Acho que a reação dos muçulmanos é errada ao tentar limitar o discurso das pessoas, que deveriam ter o direito de poder tirar suas próprias conclusões. Penso que, se alguém desenha algo ofensivo, isso terá um mau reflexo no seu trabalho. Quando faço cartum político, sou muito consciente das sensibilidades em jogo e tento evitar que um elemento daquele cartum seja puramente ofensivo. Se você faz isso, eles vão focar apenas naquele elemento em vez da charge como um todo.
G1 - No ano 2000, você enfrentou protestos após publicar no jornal "Los Angeles Times", um cartum que mostrava um homem judeu adorando um muro onde se lia a palavra "Hate" (ódio). Como foi isso?
Ramirez - O que pouco se falou é que nesse cartum havia dois personagens, era um amálgama de extremismos. Havia um judeu e um palestino, e eles estavam orando diante de um muro onde havia a palavra "Hate" (ódio). Quis dizer que há pessoas que transformam sua religião em uma causa política. Não era um comentário religioso, mas sobre poder. A legenda do cartum era: "adorando seu deus".
Ramirez - O que pouco se falou é que nesse cartum havia dois personagens, era um amálgama de extremismos. Havia um judeu e um palestino, e eles estavam orando diante de um muro onde havia a palavra "Hate" (ódio). Quis dizer que há pessoas que transformam sua religião em uma causa política. Não era um comentário religioso, mas sobre poder. A legenda do cartum era: "adorando seu deus".
G1 - E como foi a reação dos leitores?
Ramirez - (Risos) Recebi e-mails cheios de ódio dos dois lados. O interessante é que, mais tarde, dei uma palestra para um grupo de rabinos sobre o assunto e uma vez que expliquei o cartum e eles olharam com atenção, não houve críticas. Uma coisa importante sobre a charge política hoje é que se tratam de trabalhos que lidam com temas complexos. E, como chargistas, temos de entender a profundidade do tema nós mesmos. Temos de conhecer o assunto bem o suficiente para defendermos o nosso ponto de vista. Não há nenhuma charge que eu tenha desenhado até hoje que eu não consiga defender.
G1 - E nos Estados Unidos, há assuntos tabus os quais um cartunista não pode tocar?
Ramirez - Não acho que existam temas que não possamos tocar. Mas os Estados Unidos ainda são uma sociedade bastante puritana e você pode acabar ferindo a sensibilidade de certas pessoas. Há certas limitações, mas de bom gosto. Quando Johnnie Cochran, advogado que inocentou O.J. Simpson no caso do assassinato de sua ex-mulher, morreu [em 2005] eu lembrei da famosa frase que ele usou no julgamento: "se a luva não serve, você tem que descartar [as acusações]". Desenhei uma charge que mostrava Cochran chegando no céu e ouvindo de São Pedro: "se o halo não serve, você tem de que descartar [a entrada no paraíso]". Mas depois olhei para o background de Johnnie, e ele teve uma grande história de vida. Então não conseguiria pegar só aquela passagem para fazer a charge, e não a fiz. Há certos limites que você mesmo se coloca.
G1 - Como chargista, você vai sentir falta de George W. Bush quando ele deixar a presidência no ano que vem?
Ramirez - Não acho que existam temas que não possamos tocar. Mas os Estados Unidos ainda são uma sociedade bastante puritana e você pode acabar ferindo a sensibilidade de certas pessoas. Há certas limitações, mas de bom gosto. Quando Johnnie Cochran, advogado que inocentou O.J. Simpson no caso do assassinato de sua ex-mulher, morreu [em 2005] eu lembrei da famosa frase que ele usou no julgamento: "se a luva não serve, você tem que descartar [as acusações]". Desenhei uma charge que mostrava Cochran chegando no céu e ouvindo de São Pedro: "se o halo não serve, você tem de que descartar [a entrada no paraíso]". Mas depois olhei para o background de Johnnie, e ele teve uma grande história de vida. Então não conseguiria pegar só aquela passagem para fazer a charge, e não a fiz. Há certos limites que você mesmo se coloca.
G1 - Como chargista, você vai sentir falta de George W. Bush quando ele deixar a presidência no ano que vem?
Ramirez - Nem tanto. Eu vejo esses três candidatos se atrapalhando em seu caminho à presidência e só consigo pensar que o meu emprego está seguro. Vai ser divertido.
G1 - John McCain, Barack Obama ou Hillary Clinton. Pensando com a ponta da sua pena, qual destes pré-candidatos você preferiria que chegasse ao poder?
Ramirez - Tenho de reconhecer que a era Clinton foi uma das melhores para se fazer charges. Parecia Natal o ano inteiro! Por isso, parte de mim gostaria muito que Hillary vencesse. Mas, fosse McCain ou Obama, eu também teria material para mais muitos e muitos anos.
Ramirez - Tenho de reconhecer que a era Clinton foi uma das melhores para se fazer charges. Parecia Natal o ano inteiro! Por isso, parte de mim gostaria muito que Hillary vencesse. Mas, fosse McCain ou Obama, eu também teria material para mais muitos e muitos anos.
G1 - De fato, foi durante o governo de Bill Clinton que você ganhou seu primeiro Pulitzer, em 1994, não?
Ramirez - Foi ótimo! E quando ganhei o prêmio recebi uma carta de congratulação deles. Aí aproveitei a chance e mandei de volta um pacote com as minhas charges. Desde então, nunca mais voltaram a falar comigo (risos).
Ramirez - Foi ótimo! E quando ganhei o prêmio recebi uma carta de congratulação deles. Aí aproveitei a chance e mandei de volta um pacote com as minhas charges. Desde então, nunca mais voltaram a falar comigo (risos).
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